O que quero fazer caso envelheça...
“Quando tiver velha, quem vai cuidar?” – essa é uma pergunta típica para quem não pretende ter filhos. Mas convenhamos, que questãozinha subjetiva até mesmo pra quem quer, viu?!
Quantos idosos têm filho que, pela correria da rotina - inclusive
na obtenção de recursos para ajudar no sustento dos pais -, não tem tempo
disponível para dedicar-se ao cuidado necessários, recorrendo a terceiros?! E quantos
pais na melhor idade se recusam a ‘dar trabalho’ na casa dos filhos ou aceitar
uma ‘babá’ em casa a menos que estejam de cama?! E quantos filhos morrem antes
de seus pais numa ordem inversa do ciclo de vida?!
“Eu pretendo fazer minha previdência” às vezes é uma
resposta que choca, mas... vejo meu avô triste, sem ter a mesma autonomia que
tinha para sair, espairecer. Acredito que ele ficaria mais feliz num lugar onde
pudesse compartilhar experiências com pessoas da mesma faixa etária. Seria uma
boa distração, caso a ideologia da sociedade em que cresceu não fizesse de
asilos um purgatório que prova um abandono familiar ou até mesmo que a pessoa
não é querida.
Pelo mesmo motivo, não tenho coragem de investir nas
instituições para meus pais. Eles já deixaram claro o receio de ficarem num
lugar ‘assim’, e eu respeito suas vontades, embora ache que, mesmo presente por
amor, minha assistência será irrisória pelo simples fato de que não tenho
nenhuma prática na área de saúde para auxiliá-los de forma operante nas carências
físicas.
No entanto eu, em outra geração, penso diferente mesmo de
alguns reprodutores do padrão em minha geração, que despejam em filhos, que
ainda não chegaram ou que pretendem ter, o peso da responsabilidade de uma
melhor idade que é própria, sem nem ao menos saber se irão viver, poder,
querer... Pra mim isso soa como uma espécie de troca de favores, sabe?! ‘Te
criei pra tu cuidar de mim quando eu precisar, meu filho’, e não acho que
relações afetivas são estabelecidas por obrigações.
Acredito que serei muito feliz curtindo, fofocando e
aprendendo crochê por tardes a fio com minhas colegas velhinhas bem vividas em
lugares ‘assim’, sabe?! Com assistência o dia inteiro acaso precise de cuidados
médicos. Eu quero esses lugares ‘assim’, onde a fiscalização é rígida com maus
tratos e os profissionais são qualificados. Eu quero visitas que irão me encontrar depois de uma aula 'da hora' de educação física, por amor, num lugar ‘assim’, que
tenha um balanço bem legal no jardim. E eu estarei lá, balançando com um livro e graus a
mais nos meus óculos, num estilo 'supimpa', que agrega aos meus cabelos branquinhos
a paz.
Acredito que, desta
forma, a passagem do tempo e a decadência do corpo não ficam tão nítidas e
sofridas. E por isso, está em meus planos de trabalho a poupança para que me banque
acaso chegue no amanhã sem ser carga de ninguém, ainda que tenha filhos. Não é autossuficiência,
apenas um #PartiuAsiloFeliz!
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