IN(TENSO)

Num lugar onde você é conhecido e querido, mesmo que não "desentoque" pra "ruar", é normal ter aspectos que todos julgariam como "anti-social". Você tem sempre um grupo seleto baseado em tempo, laços e conhecimento pra compartilhar seus melhores momentos. 

A preferência por um bom filme num belo dia de chuva à uma praça ensolarada onde você terá que sorrir, ouvir, conhecer, contar... não te fará exitar. Realmente ficar em casa não conseguia te entediar, nem mesmo te isolar! 

Nos telefonemas um convite com carinho, e variavam, de forma que você poderia escolher, quem sabe, prever coisas que poderiam acontecer. Ao berro de um visinho, risadas, "babados" pra comentar... não teria que responder as perguntas iniciais de qual seu nome e de onde vinha, nem aparentar legal com uma superficial conversinha, nem discutir pra se enturmar... a conversa jogada fora tinha uma história, não tinha muito o que explicar. 

Quem  gostava se aproximava e só isso importava, mas sair do seu mundo significa recomeçar...

Agora estou no lugar certo para me contrariar. Me surpreendo com o quanto estou deixando fluir meu lado sociável. Não passei a "fazer social", ser agradável por conveniência, sorrir do que não tem graça, concordar com o que não tem lógica, ir em lugares que não me cabe, dançar, beber, fumar... passei a deixar fluir, ter vontade atemporal de sair, procurar formas diferentes de me divertir, achar alguém que se pareça a mim... vontade de "aparecer lá", aceitar convites, sorrir pra desconhecidos... ainda não consigo fazer visitas, mas quem sabe até isso um dia acontecerá?!

Entre os BBBs é moda afirmar que na casa tudo é mais intenso. Papo vai com antigos estudantes e a percepção é a mesma dos calouros que vem: o fato é que em minha "nova cidade" é um lugar tombado, patrimônio histórico, onde estudar é a maior e melhor distração, opção, acomodação...

Costumo dizer que se não tivesse tido contato com as correrias de capital e adaptações de interior, não chegaria a me sentir numa espécie de outro mundo. É um lugar onde a intensidade se faz presente, com um descréscimo: não somos filmados (não por câmeras) 24h por dia. Que ótimo! 

Ou não... aqui a gente se alia comumente à solidão. Não aquela de está literalmente sozinho, mas aquela que mesmo estando rodeado de pessoas novas, sorrisos coesivos, mentes focadas, compartilhando descobertas... vamos sentir falta de alguém, de muita gente, da família, dos amigos de sempre... do cachorro, até do som "injuriante" da vizinhança. 

Saudade de casa, da cama, da comida, do jeito de dormir, assistir TV, acessar a net, conversar no celular, ouvir músicas, "requebrar", organizar e guardar. Saudade da liberdade regrada, das mordomias da secretária em casa, de ser acompanhada, dos gostos e horários respeitados, das reclamações pelas mínimas falhas, de ter tudo "compradinho" e "limpinho",  de intimidades, de recordações em conjunto...

E pra onde vai a concentração? nem estudo, nem hobbies, nem nada... falta de vontade, vontade de que o sono invada e engula o tempo como um furacão!

E você que nunca foi carente, sente um vazio permanente. Uma vontade de ter alguém colado com a gente pra compartilhar tudo. Não seria de se admirar você manter "prosas" com o "gasparzinho" da juventude, já que você não lembra de ter tido um na infância. 

Quem já tinha indícios de depressão imagino o suplício... tudo cresce em gênero, número e grau. Pula degrau e parece desconformante, desconfortante, "desanestesiado". Você adquire nova visão, nova auto-proteção, nova intenção, nova comunhão. Você conhece você, o que você é a partir do que você não é, o que você gosta sem que tenha o dever, o que você quer e o que você se cobra ser, o que você quer que seja e o que você está se tornando... a mente e o coração sempre latejando.

Você começa a entender na prática o discurso dos experientes: aprende a viver e sobreviver! 

Talvez teu coração endureça porque nem todas as pessoas saibam ser respeitadas ou receber solidariedade. Talvez cada um por si e Deus por todos seja a realidade mais nua e crua que você tenha que perceber quando se depara com as tentativas de "tapeação" com irmandades. Talvez você perca o senso de interpretação e queira entender tudo com mais fraternidade. Talvez você pareça transparente até fazer algo errado. Talvez você perceba o peso de ser adulto e andar só, se equilibrar só, conhecer só, conseguir só, recusar só, pensar só, analisar só, encantar só, "se quebrar" só, "se virar" só... 

Mas, contudo, o tempo passa, alguns bons fins de semana, as férias chegam, um dia, como tudo, o período acaba! Pelo menos em partes... Algumas coisas serão lembradas com saudosismo outras com certeza não. Aprendizagem é presente. Uns dias você sente a sorte, outros o azar te dá "saculavão"... Algumas pessoas passam e vão, ou ficam, e essas já especiais e amadas te acompanharão. Você percebe que alguém já faz parte de teu círculo, você já considera amigo, já tem coisas pra lembrar... quem sabe até resenha? Fotos e cinema em casa? Com o tempo telefonemas, confidências e "depoimentos" vão trocar... você arranja com o que se ocupar, pode até se superlotar!

Talvez você se dê conta de que realmente tava muito "bem" acostumada com o bom sem se dar conta, e aprende a supervaloriza-lo, mas cresce e consegue construir uma vida mediante todas as etapas vividas e a velocidade proposta pelo tempo te fará emocionar...

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