Férias

As vezes eu amo tanto que tiro férias
e vou num thur pro inferno. 
(Cazuza)



Nós estamos conectados, é como se em qualquer lugar onde eu esteja sentisse a ligação com você. Essa ligação não me permite te telefonar, te procurar, te informar ou encaminhar. Não me permite e isso inclui me libertar em proporção global. A ligação vai estar sempre em espera, esperando a sua hora, aquela em que você vai atender, receber, aceitar. Aquela em que você vai demonstrar que a conecção pode ser larga e sem qualquer indício de rejeição ou queda. Porque eu caí, derrubei a mim mesma e não tenho achado o início do buraco, tenho cavado procurando um final. Mas não quero um final, não quando sonho com um começo. Mesmo que tudo encontre seu endereço em mim e numa possibilidade milagrosamente divinal.  A improbabilidade ou falta de previsão, isso só me prova que tenho me dado fio pra me enforcar: um cabo de aço revestido em sentimentos que me dá força na mesma proporção em que você se afasta. Talvez não acredita ou simplesmente não sente que na lista minha colocação pode mudar.

É, você não se deu conta que tenho teu número mas faço um esforço tremendo para não te ligar, ao menos para ouvir tua voz e possivelmente de quem em teu lado possa estar. Ou poderia te ligar de outra forma... talvez você precise ouvir explicitamente o quanto você me faz bem e o quanto desejo te fazer feliz também. O quanto eu nem entendo o porque, mas aprendi a ser melhor por você. Você não faz idéia de quanto eu tenho navegado em terra firme, em quanto eu tenho voado com os pés no chão. Em quanto eu tenho passado minhas férias no olho de um furacão, turbulento, que não polpa tormento e ameaças de explodir. Explosão é aquilo que não cabe mais na gente, mas tem que ter espaço para ocoar. Me sobra conteúdo e disponibilidade de acesso. Não tenho achado lugar além de mim mesma, de cada veia e artéria, cada pulsação e calmaria, cada noite que vira dia. E eu quis férias pra mim, de mim!

Eu sabia que estando longe, por dentro seria mínima a chance de mudar, mas teimei que pudesse me convencer, aceitar e inovar. Talvez eu pudesse cansar de turismo e construísse meu alicesse. Certamente eu amo tanto o aconchego do inverno que cliquei em passagens pro inferno. E viajei. Anseio o dia que retornarei ainda firme no sonho de que tudo pode ser diferente. O eu que não será! Aliás, tudo pode piorar. Mas ainda penso que não há nada pior que não te ver, não saber como você está, não sofrer com todas as formas que puder, não acreditar em cada expectativa que inventar para enxergar. Não há nada pior que saber que quem ama, as vezes ama sem querer e carrega na bagagem uma dor, a dorzinha do prazer.


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