Um problema.

E olhando aquela mulher só consigo imaginar seu marido. Deve ser paciente. Tem que ser, coitado... porque, áh, aturá-la falando por 15 minutos parecia uma eternidade. Cansei, me permiti voar e analisá-la... cabelos curtos, ondulados e tingidos, claro que de loiros e precisando de retoque, um pouco acima do peso, quase demasiadamente. Somente um brilho labial ensaiava maquiar a palidez de sua branquidão que deixava notórias as manchinhas que nem sei nomear; Talvez sardas, talvez rugas, talvez sol, talvez maternidade, certamente tempo! Falava rápido, gesticulava muito... parecia impaciente, ansiosa e no fim achei que fosse só necessidade de chamar atenção mesmo. Ela parecia querer ter razão, ela estava certa que tinha. Ela não se importava com o volume de sua voz, aliás, ela não se importava com quem não quisesse lhe ouvir no ambiente fechado que carrega súplica por silêncio. Ela parecia gostar das pessoas que expunha, reclamava ao mesmo tempo em que se gabava. Acho graça de pessoas que se gabam enquanto alardeiam fatos de uma vida que não lhe pertence. É, aquela senhora parecia ter pose de muitas vidas. Imaginei seus filhos, estes deviam viver certos que são alvos constantes. Talvez toda aquela ladainha que devem escutar em casa sirva enfim para alguma coisa: vencer-lhes pelo cansaço, lhes moldar enquanto estivessem por perto. E se esse monopólio lhe faz feliz, quem lhe contrariaria? Nem mesmo a conhecida que monossilabava sempre que podia ou precisava. Controlei por vezes minha vontade de rir sempre que após milhares de palavras escutadas a boa alma resmungava "viu", "tá", "ahã", "é mesmo" com os olhos batalhadoramente fixos. Mas aquela mulher, ah, aí ela se sentia e falava, se empolgava... talvez ela precisasse falar, se sentisse sozinha. Ou talvez aquela fosse ela. Se tivesse somente escutado sua voz sem a oportunidade - desprovida de prazer, diga-se de passagem - de vê-la, esperava encontrar-lhe mais perua... um esmalte vermelho, um cabelo mais loiro, um vestido animalesco mais curto, um salto alto, uma bolsa maior, um aspecto mais rico, de aparência pelo menos. Me pergunto porque sempre espero ver uma árvore de futilidades nessas pessoas... Talvez ela não tivesse em um bom dia e talvez ela se fantasia de alguém mais amena, mais discreta, mais composta, mais sensata com fé de que um dia a carapuça sirva. Orarei por esse dia como orei pela alma daquela secretária que chamou seu nome para que fosse atendida pelo médico naquele momento. Ops! Longe de mim já posso pensar em orar por ela, talvez ela só tivesse tentando disfarçar o nervosismo, esquecer problemas... vai com Deus!


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