#múrry.



Cada novo ciclo propõe uma morte. A gente faz coleção de mortes! "Última vez", "nunca mais", "não deu"... em todo fim cá estamos nós como zumbis pensando no início, como começou, um começo, recomeço. É com uma pedra de gelo que costumamos tampar em túmulo aquele sonho que acabou, não se realizou ou desistimos mesmo, ahh!

A morte tem muitas faces. Transpõe-me para aulas de geometria onde combinações de pequenas fatalidades formavam a figura. E no presente são incontáveis as vezes em que a gente morre para se desligar, desprender, crescer, desapegar.

E quando a gente conhece alguém e morre pela primeira vez!? Paralisa tudo por dentro. Por vezes a gente encobre com mais que sete palmos de terra a realidade e desperdiça as sete vidas de gatinho com mortes sem importância. A gente morre tanto que até esquece as causas.

O melhor das lágrimas que derramamos é que não deixam marcas. Imagine se o tanto de velório que presenciamos dentro de nós, nos quais nos sobra chorar, deixassem cicatrizes?! Ahh, poderiamos andar facilmente vestidos de preto para o próximo funeral pelo peso de viver carregando um cemitério por dentro.

E quando a gente dá o primeiro beijo e morre pela segunda vez?! São tantas emoções que parece um choque anafilático. É como se a partir daquele momento a gente precisasse de uma única máquina para sobreviver, para manter o calor e a umidade em equilíbrio. E o que mais se deseja é o clima frio quando casamos imaginariamente pela primeira vez numa cerimônia liiinda. Uma pena que muitas vezes o protagonista nos adiante a viuvez. Mas naquele instante você matou qualquer vestígio da vida de solteiro. Você só conseguia ressuscitar ao lado dele, depois de morrer trocentas vezes por dia e continuar defunta até o próximo reencontro...

É mais ou menos assim que a gente aprende a morrer em sequência e perde a conta: Move o corpo de cadáver em decomposição diante de olhos podres de pessoas indiferentes que, passam preocupadas com a gravidade de suas próprias mortes, enquanto esperam ônibus, lixam unhas, preparam o tempero, dormem ao nosso lado...

Mas é válido ter fé em Alguém que nos dá a sensação de retorno à vida. Talvez seja através de alguém que nos faça morrer outra vez de forma lenta e contínua. É como se o ato de matar não quisesse se equilibrar com a vontade de deixar morrer. É uma ressurreição diária bem ensinada. Você acredita nessa alma? Alguns chamam de gêmea. Eu apenas chamo de mensageiro da sentença de paz...


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