E viver...

(Texto escrito no pôr-do-sol passado. Se aproximando a páscoa, tempo de reviver!)




Eu escrevo diretamente de debaixo de uma árvore porque me permiti atender à necessidade de contato com a natureza, de ver o pôr-do-sol e não somente olhar no relógio e imaginá-lo acontecendo. Hoje eu quis ter os cabelos bagunçados pelo vento, receber um cheiro da brisa fluvial, os barquinhos amarrados na beirada. Hoje eu busquei o amor pela paz, aliviar a cabeça dos atordoamentos problemáticos e cotidianos, quis ouvir somente a voz dos pássaros. Estou me sentindo propriamente viva, como a grama, que mesmo estática, sei que cresce e vive.

Não quero reportar nada, somente me permito declarar o quanto é bom viver apesar dos efeitos humanos que destoam a paisagem, das formiguinhas que fazem cócegas ao insistirem em caminhar por meu corpo, dos mosquitos nada agradáveis. É que eu sinto sabe?! Eu estou viva... e acredito que arte está na minha relação com o meio, algo que causo e sofro, algo que deixa de ser superficial e passa a ser intenso, é contemporâneo, mutável, poético, inovador e filosofal. É descoberta!

E agora recordo de pessoas que não conseguem encontrar graça na vida, nada que lhes interessem ou agradem. A vida tem que ser experientemente atordoada de acontecimentos ruins ou a pessoa é cega o suficiente para não se permitir experimentar o que há ao redor! Porque a apesar dos pesares, a vida é apaixonante...

Tem pessoas que encaram serenamente o fim da vida, e eu compreendo, porque também quero findar minha vida aqui... mas para viver eternamente em uma dimensão maior, eterna, melhor. Entende? Quero continuar vivendo! Mas morrer por morrer, por não enxergar valor na vida, nenhuma saída!? Talvez essas pessoas nunca estiveram realmente vivas, viram o mundo, do qual falam mal, e cada detalhezinho que o torna fascinante, por um vidro embaçado e turvo. Talvez até desejem tanto um porvir, que decidiram viver de sonho, espera e ilusão, deixar pra viver lá sem ao menos aproveitar o ensaio que temos como dádiva por agora.

Viver é respirar ar puro, é intercalar responsabilidades e diversão, é ter bom humor quando o contrário não solucionará nada. É rir!  Viver não é ter identificação de classe, gênero, opção... é apenas não ser chato sendo o que for. É ter noção de que temos uma máquina que nos permite correr e uma cabeça que nos permite voar.

É dançar, comer comida de mamãe e se não tiver mãe, o restaurante do botequim ao lado que tem um tempero como nenhum outro igual, e agradecer por poder se alimentar, ter paladar. Viver é ter família, amigos, alguém pra querer bem e poder aprender grandes lições com os animais.

 Viver é ler tudo e desbravar o mundo nem que seja com um mapa de celular na mão.  E sim, saber delinear os limites do próprio mundo, deixar de mimimi no ouvido dos outros, deixar de tentar ser o centro das atenções e penas. Viver é saber lidar consigo, saber o que é privacidade, liberdade. Saber, conhecer! Viver é ter problema e ema-ema-ema, cada um tem o seu, não é verdade?! Viver é ter aquelas crises loucas internamente e, civilizadamente saber lidar com o dia que vem após o outro.

E assim vivemos, como a letra da canção que alerta a necessidade de saber viver, o verso que diz que viver é arte, com a ciência de que o problema não está na vida, está no caminho que escolhemos, na forma que traçamos!

O sol se pôs, a lua vem vindo, e alguém vai dizer que eu não estou vivendo intensamente um belo quadro? Revivo.

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