Água corrente



Aquela menina lá atrás lutava para não se afogar naquele mar, mar furioso de dúvidas. Talvez ela não tivesse noção de que aquele mar de informações não cabia dentro de si. Muitas gotículas couberam, cabem ainda... maior parte de seu solo precisa se hidratar. A cada nova gotícula parece que aumenta a sede curiosa. A mulher de agora ainda nada contra a maré, ainda não aceita qualquer boia, ainda insiste nas correntezas, ainda precisa de aventuras, mesmo que tema.

 A menina que não se deu conta de tão rápido que virou mulher ainda não entende a sorte, os sonhos, o ritmo das ondas, não entendem sensações como déjà vu, não entende aquela espécie de impriting que lhe suga em redemoinho e a falta de aptidão em ser jovem brisa marítima. Elas ainda remam sozinhas num barco de saudade, bote que não as salva. Sem entender porque algumas pessoas simplesmente conseguem embarcar e outras nunca conseguirão.

Elas rezam sem acreditar em Iemanjá. Não concebem como conseguem criar caraminholas na cabeça e borboletas no estômago, mas ainda tem gente que não gosta de cachorro. Realmente não assimilam a existência de macaco que não se contenta com seu galho, talvez peixe que não se adapte a seu cardume ou vive livre em um aquário. Sinceramente não entendem porque não se cansa o mar e como a bola de fogo, vulgarmente chamada sol, pode esfriar e voltar mais intensa no dia seguinte. Como a lua pôde se apaixonar tocando raso num oceano tão profundo? De todo o coração não entendem porque toda vez que pensam alcançar o horizonte estão ainda mais distantes dele.

A menina não entende maldades. A mulher desconfia da bondade gratuita.



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