Cafajeste no espelho


Disseram por aí que ele tinha amadurecido. As más línguas, que não tinha jeito. Ainda usava a capa de trauma para se desculpar com sorrisos amarelos, mensagens mecânicas, apelidos generalistas. Causava humores ácidos pelas situações um tanto quanto embaraçosas.

O guarda-roupa não mudou muito e ainda guardava com carinho todas as pelúcias e lembranças que arrecadou pela vida. Ainda que o tempo trouxesse saudades e ele tivesse necessidade de atravessar a linha imaginada para fechar um ciclo, ele simplesmente não se sentia apto.

Mais cedo o viram em frente ao espelho, descabelado e por sorte as rugas ainda não o alcançava embora tenha deixado a barba por fazer. O reflexo era turvo, imperfeito, parecia estar sem os óculos que embora detestasse o encorajava a encarar qualquer coisa.

Afetivamente não sabia qual rua seguir, deixou que os atalhos lhe empolgasse por muito tempo. Horas ali, em frente ao espelho, esperando quem sabe, que mudasse, se vestisse do personagem bem acabado e convincente que todos torciam no final de uma bela produção.

Insegurança vestida de amores bem resolvidos, para sua confusão. Não passou. Não chegou. Desistiu mais uma vez e voltou para a rotina, a responder as mensagens recebidas, sem colorir o preto e branco com alguma tinta permanente, reconhecia bem os tons de cinza.

Dizem por aí que as vezes dorme só, as vezes vai à caça. Dizem que ele prefere esperar por Papai Noel que decidir seu presente. Para determinar uma situação contava com a sorte, destino e acaso. Parece-me que o espelho não tem previsão para deixar de ser turvo porque não sabe escolher, escolheu errado!


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