Intempestivo



Todas as discussões bagunçavam minha mente, meu coração desesperado pelas suas certezas. Eu parecia retornar ao parque de infância no colégio onde sentia que aquilo me envolvia bruscamente. No balanço era empurrada por você e tudo em mim começou a girar de repente. Mesmo sem querer foi impossível controlar a velocidade daquilo tudo. Acordar era como desafiar a atmosfera.

Estremeci!

Você não estava ao meu lado, certamente a tua imagem mais linda com cara de sono. Mais uma vez eu tinha calafrios no meio da noite em todos aqueles quatro meses. Rolei na cama, me apoiei na tua visão e lágrimas desceram. Será que você algum dia entenderia meu medo de te perder mesmo com todas as promessas que fiz e voltei atrás?

- Faça o melhor pra você!

Mal sabia que meu melhor vem de você.

Todo o mal veio de amar. E eu que sempre destinei meus sentimentos a prisões de viligância máxima controlados por sensores eficientes, fui ameaçada sem fuga.

- Será que você iria me amar se soubesse que acordo chorando por noites? Iria me amar se soubesse que mesmo não sendo tocada te sinto durante meses? E se descobrisse que para mim não existe fim por partida? Você iria me amar se eu te desse todo espaço que precisasse e ainda reservasse tua parte no guarda-roupa? Ou se virasse um anjo calado e sofrido? Você acreditaria se eu dissesse que te quero todos os dias até quando me convenço do contrário? E se eu travasse uma guerra interna pelo ciúme de quem tem tuas mãos, teus braços, tua boca, teu sexo e você do lado? E se eu montasse na cabeça a imaginação dos teus horários? Você entenderia que apesar do meu amor estraçalhado eu enxergo nossas diferenças e individualidades e isso não me importa?

Sufoquei. Tive a fé do tamanho de um grão de mostarda e quem sabe você ouvisse e iria me responder. Seus olhos misturavam o receio de me machucar respondendo aquelas perguntas de forma clara e verdadeira com o desejo de respondê-las positivamente apenas para conter minhas lágrimas. Continuei...

- Eu iria te amar pela pessoa maravilhosa que você é e todas as coisas que conheci. Iria amar apesar da chatice nas brigas, te tirando a paciência pela mania insuportável de querer saber, do meu jeito, detalhes que se pode prever. Iria amar por carinho, por cuidado, por regeneração, pela insistência do que eu tenho guardado no peito ainda que não pudesse repetir os melhores momentos que tivemos e que soubesse que não poderia compartilhar todos os meus dias com você. Eu iria te amar sem qualquer e toda mudança que fosse preciso. Eu iria te amar dividindo uma cama de solteiro, um quarto pequeno e uma vida exaustiva. Eu iria te amar pelo beijo apertado que eu não precisava guardar pois ganharia outros. Eu iria te amar pelos teus versos compreensíveis, pelo  coração bom. Iria amar pelos sonhos, pelo idioma, pelo tom. Iria te amar aceitando, declarando, entendendo. Iria amar com a chave de baú, pelos anéis de Saturno, com cumplicidade da lua e pela âncora no Porto. Iria amar até tuas amigas, tua família. Iria amar por amar, sabe?

Certamente o mal de amar que você deixou será sempre o vilão dos meus rabiscos nas noites de tuas ausências. Fui adormecendo, embaçando gradativamente tua visão ao meu lado, esperando que a vida acordada não parecesse um pesadelo. Por alguns segundos pude sentir teu peito e teu cheiro, cheguei até a ser sulgada por três palavras que acalmariam os meus dias: Eu te amaria...

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