A folhinha

Silenciosa, seca, a deriva. Não era sabido de onde mesmo tinha vindo. Do alto, certamente. Qual não mais importava - não era mais seu lugar, não se remediava, não restaurava, não adiantava nem olhar, não tinha como voltar.

A terra, seu novo ambiente, lhe arrastava na enxurrada d'água fria. Como se precisasse lembrar o quão frio era estar longe do seu seio, da sua seiva, do calor protegido que costumava estar. Ali não parecia ter valor, contrário a isso, não somava a qualquer conjunto, parecia lixo, uma sensação térmica de gélido.

Pode já ter sido maior em algum lugar, mas ali, sozinha, não parecia maior que isso. Já não tinha cor, devia ter medo, perdeu o verde da esperança. Mas ela seguia, pequena e aparentemente insignificante no caos ao redor. Não se contrapunha. Seguia. Solta ao vento que lhe lembrava sua condição. Apenas seguia. Sem se contrariar ao destino que se traçava a frente. Seguia! Sem alarde, seguia. Sem noção, seguia. Sem escolha, seguia.

Era outono, tempo de cair e aquela folhinha que parecia não ter dono, teve fé. Haviam mais folhas pelo chão embora da sua árvore não tivesse companhia. Algumas jaz fragmentadas. Outras sem sorte lhe fizeram perceber que rancor é peso inútil e amor um apego que afeta e nem sempre acalenta. Ela não sabia onde iria chegar, mas iria, disso tinha certeza. Ainda existia. Não sabia por quantas surpresas e desgastes iria passar, mas chegaria em algum fim e talvez encontrasse nisso fortaleza.

Aquela folhinha flagrou meu olhar e me sorriu sua lição. Simpatizei! E o vento que soprou me fez perceber que não estou tão só assim... [tenho folhas, com certeza!]

Laís Sousa

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