Quando o feminismo fizer sentido para todas as mães...




Pode ser que sua mãe seja bem religiosa, você esteja acostumada a ouvir que "mulher sábia edifica o lar" e não se surpreenderia se, de bom grado, ela abrisse mão de todos os direitos conquistados pelas mulheres para reinar submissa, satisfazendo e nunca confrontando.

Pode ser que sua mãe seja moderna, empreendedora e até tenha sido mãe solteira - daquelas mulheres que aprenderam a ser tão fortes que o empoderamento tornou-se pele, veja bem, elas não precisam entrar em discussões e vestir camisas...

Pode ser que você tenha irmãos, homens, e percebeu desde cedo que na criação deles sobrava liberdade e incentivos, enquanto na sua sobravam limites, regras e apreensões.

Você pode ainda ter dado a sorte de, assim como eu, ter vivido uma realidade do feminismo prático, mesmo que incosciente, quando seu irmão ouviu "não faça com a filha dos outros o que você não gostaria que fizessem com sua irmã",  tinha tarefas domésticas e era incentivado a brincar e se divertir juntos.

Fato é que, mesmo com toda importância que tem a teorização do feminismo, ainda é comum tudo aquilo que oprime tantas mulheres e mães. As nossas, as delas e ainda àquelas que com nossas idades já eram mães e nem sequer tiveram oportunidades diferentes para criar outra realidade.

Reconheço o quão essencial é a busca pela construção e desconstrução da identidade de gênero no intuito de que, com a exploração e repercussão de ideias a nossa cultura seja modificada para que todos tenham espaço. Mas o espaço vai muito além da revolução que torne real a liberdade; o grito autêntico de "não sou obrigada a nada" e uma imposição do respeito que é nosso por direito. Vai além da questão de ter nascido com vagina e ter sexualidade reprimida por tanto tempo...

O espaço fará sentido quando contemplar aquela mãe que reina solitária em casa entre afazeres domésticos e versículos. Para àquelas cuja discussão sobre o aborto não fará a falta que fez o cumprimento das obrigações do reprodutor de seus filhos - ou nem fez, mas ainda assim tinha obrigação;

Para todas que temem por suas filhas, que as preservam para que não sejam desconsideradas "dignas de casar"; Para tantas que ainda privilegiam os meninos em casa porque haverá um dia em que será um bom partido, pegador e mantenedor de uma ou mais famílias... ou talvez se questionem sobre a responsabilidade de ter "formado um filho gay".

Aquelas que são violentadas e amordaçadas pelo capitalismo patriarcal. As tantas que se dedicam a servir 24 horas, mas talvez não terão aposentadoria para arcas as contas. As que bancam as despesas do mês driblando as varizes e dor nas costas, ainda finalizam o expediente com a sensação de que deveriam ter feito mais pelos filhos e pelo lar.

O feminismo será contemplado na "educação que vem de berço" quando as mães puderem ensinar às suas crias, sejam homens ou mulheres, àquilo que viveram na prática. Quanto reproduzirem uma cultura que lhe contempla como mulher, como ser humano. Quando não temerão, nem por direitos nem por respeito, conduzindo uma geração certamente melhor...

Parabéns a todas as mães, estágio máximo das lutas e causas feministas e progressistas!

Laís Sousa

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